A COP28 (Conferência da ONU para as Mudanças do Clima), que reuniu líderes mundiais em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, trouxe à pauta um tema sobre o qual o Blog SAS Smart de inovação na saúde vem falando muito: a interseção entre saúde e meio ambiente. Nossa visão é a de que o cuidado com a saúde ajuda a cuidar do planeta – e vice-versa, lembrando que, se fosse um país, a saúde seria atualmente a 5ª maior emissora de CO2 na atmosfera.
Iniciativas da conferência acontecem em meio a um ano em que desastres climáticos e eventos extremos têm ocorrido com mais frequência. Enquanto muitos sentem o calor extremo em cidades brasileiras (e ao redor do mundo), eventos devastadores como incêndios florestais, inundações e secas deslocam pessoas, matam plantações e o gado e agravam a poluição do ar. Doenças como cólera, malária e dengue crescem, aumentando também a preocupação.
"Esse ciclo vicioso, em que o setor da saúde e suas emissões de CO2 pioram o quadro ambiental, e essa piora, por sua vez, gera impactos negativos à saúde, é um cenário que precisa ser abordado", afirma Sabine Bolonhini, cofundadora da SAS Smart.
Às vésperas da COP28, que começou dia 30 de novembro e terminou esta semana, agências da ONU divulgaram um alerta enfático, que coloca os dois assuntos na mesma frase. Para as entidades, a saúde de mulheres grávidas, bebês e crianças está sob riscos extremos em função de "catástrofes climáticas". O alerta faz parte de um documento intitulado "Proteger a saúde materna, neonatal e infantil dos impactos das alterações climáticas: um apelo à ação".
O documento associa os eventos climáticos extremos, como os que já temos observado, com riscos crescentes de "desenvolvimento de complicações que levam a consequências adversas para mães e perinatais", em referência ao período anterior e posterior ao nascimento. Entre as consequências, as entidades listam múltiplas causas de morbilidade e mortalidade materna e neonatal, como diabetes gestacional, hipertensão na gravidez, parto prematuro, baixo peso e mortes ao nascer.
"Além dos riscos para a saúde relacionados à má nutrição, água, higiene e saneamento, efeitos da exposição aos perigos climáticos e suas consequências durante e após a gravidez podem ter impacto na saúde mental e contribuir para traumas intergeracionais. Eles podem aumentar estresse, ansiedade e depressão – fatores conhecidos de risco" – Organização Mundial da Saúde (OMS)
“As alterações climáticas representam uma ameaça existencial para todos, mas mulheres grávidas, bebês e crianças enfrentam algumas das mais graves consequências”, disse à agência da ONU Bruce Aylward, diretor-geral-adjunto para Cobertura Universal de Saúde e Curso de Vida da OMS. Segundo ele, "o futuro das crianças precisa ser protegido de forma consciente, o que significa tomar medidas climáticas agora para o bem da sua saúde e sobrevivência, garantindo ao mesmo tempo que as suas necessidades únicas sejam reconhecidas na resposta climática".
"A discussão da COP 28 parece ter sido o começo de um debate mais estruturado sobre o tema de como saúde e ambiente se inter-relacionam e impactam um ao outro. Ainda temos um caminho importante de construção, e essa agenda também é prioridade no Grupo SAS", lembra Sabine.
As agências da ONU que assinam o alerta são a OMS, o UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e o UNFPA (Fundo de População das Nações Unidas).
Dia da saúde
Em setembro, delegados e especialistas sobre saúde e clima se reuniram e expressaram suas principais preocupações em relação à intersecção entre saúde e as prioridades climáticas. O encontro, que ocorreu em Nova York durante a Semana do Clima, que coincide com as reuniões da Assembleia Geral da ONU, ressaltou a importância de entender que a emergência climática é também uma crise da saúde.
Os temas foram debatidos na esteira da decisão de organizar o primeiro "Dia da Saúde" da história das conferências COP. No dia 3 de dezembro, a data reuniu delegados de mais de 100 países, entre os quais ministros de saúde e autoridades seniores, para discutir como os dois temas se interconectam e impactam um ao outro.
Em março, Jeni Miller, diretora executiva da Aliança Global para o Clima e a Saúde (GCHA), disse que a decisão de declarar uma data oficial para a saúde na COP28 é "uma prova bem-vinda da crescente consciência política de que a crise climática é também uma crise de saúde".
Na ocasião, Miller fez um apelo para que a proteção da saúde humana contra os impactos das mudanças climáticas fosse incorporada no coração das negociações da COP28. “Em última análise, a protecção da saúde e do bem-estar das pessoas ao redor do mundo deve orientar a tomada de decisões nas salas de negociação”, disse Miller.
“O foco na saúde deve ser um estímulo para impulsionar compromissos para uma eliminação total dos combustíveis fósseis, em linha com a ciência, e deve orientar o financiamento para apoiar países de baixa renda para que possam cumprir suas metas de mitigação e adaptação [às mudanças climáticas] e de perda e danos”, apelou a executiva da GCHA.
A COP28 também reuniu, na data dedicada à saúde, apoiadores financeiros de temas climáticos e da saúde global, bancos de desenvolvimento, nações, entidades filantrópicas e o setor privado para responder às prioridades e necessidades dos países – que foram levantadas durante a COP28 – e intensificar as intervenções financeiras que protegerão e promoverão a saúde humana. Mais de US$ 700 milhões foram oferecidos para ajudar a erradicar doenças tropicais negligenciadas.
As iniciativas foram bem recebida por entidades médicas e profissionais de saúde, que enfatizam, entretanto, que o foco da saúde como parte da emergência climática deve se aprofundar.
Declaração sobre clima e saúde
Em uma decisão separada, a OMS e a presidência da COP28 anunciaram o lançamento da nova "Declaração dos Emirados Árabes Unidos sobre o Clima e a Saúde", documento que busca acelerar ações voltadas à proteção da saúde humana dos crescentes impactos climáticos. Segundo o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, "a crise climática é uma crise de saúde, mas durante muito tempo a saúde foi uma nota de rodapé nos debates sobre o clima".
>> Baixe o documento na íntegra (em inglês)
Para o presidente da COP28, Sultan Ahmed Al Jaber, a saúde é elemento crucial da ação climática. Segundo ele, é preciso reduzir as emissões globais e fazer um trabalho conjunto para reforçar os sistemas de saúde.
"Os impactos das alterações climáticas já estão à nossa porta. São uma das maiores ameaças à saúde humana no século 21" – Sultan Ahmed Al Jaber, enviado especial emiradense para as mudanças climáticas e presidente da COP28
Não é um documento qualquer. A declaração inaugura no mundo o reconhecimento sobre a necessidade de que governos protejam comunidades e preparem seus sistemas de saúde para que estejam prontos para lidar com os crescentes efeitos de eventos climáticos extremos, como ondas de calor, poluição atmosférica e doenças infecciosas na saúde das pessoas.
O Brasil e outros 122 países são signatários da declaração. O Brasil ainda apoiou a elaboração do documento, ao lado de Alemanha, Egito, Estados Unidos, Holanda, Ilhas Fiji, índia, Malawi, Quênia, Reino Unido e Serra Leoa, entre outras nações. A declaração enfatiza a necessidade de os países construírem sistemas de saúde resistentes ao clima, com baixas emissões de carbono. Nobre objetivo: proteger a saúde do planeta e das pessoas.
O momento exige uma ação do tamanho desta declaração e dos efeitos que ela pode trazer adiante. Atualmente, 9 milhões de pessoas morrem todo ano vítimas da poluição atmosférica crescente. Entre 3,3 bilhões e 3,6 bilhões de pessoas em todo o mundo estão altamente vulneráveis a eventos extremos do clima e às alterações climáticas.
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